terça-feira, 29 de outubro de 2013

O leilão de um só!

                                                                                       

"Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem." (Bertold Brecht)
                                                                                       
Leilão: modalidade de venda na qual se aliena (vende) um bem por concorrência pública entre pessoas interessadas, a partir de um valor mínimo estabelecido por uma avaliação prévia do bem.


Essa modalidade é caracterizada pela concorrência, ou seja, pela participação de diversos (mais de um) interessados que dão lances crescentes pelo bem que está sendo vendido até que todos os demais concorrentes desistam de dar lances. Também caracterizam essa modalidade: a assimetria de informações entre os participantes; a avaliação prévia (anterior ao leilão) do bem que está sendo vendido, que determina o valor mínimo (lance inicial) do bem.

Após tal definição didática (fácil de entender) resta comprovado que a "venda" do campo de Libra, de exploração do petróleo na camada abaixo da profunda camada de sal (pré-sal) que existe abaixo do solo marinho (7000m) é o mais novo exercício de criatividade sofista (ginástica verbal criativa) do partido “de direita” que está no poder há 12 anos.

O grupo que ora se encontra no poder, entre outros arroubos, sempre acusou o grupo anterior de ações inescrupulosas (entre elas as privatizações), mas tão logo assumiu o poder, passou a realizar as mesmas ações, mudando apenas o nome da ação, em exercício de “contabilidade criativa” e de “criatividade sofista” (ao chamá-las “Concessões”).

Interessante como um determinado grupo usa de distorções linguísticas para maquiar suas próprias ações (ou inações). Corrupção generalizada passa a ser mero malfeito (e usando definições do próprio grupo a que se opunha à veemência); privatizações passam a ser concessões; maquiagem contábil e fiscal passa a ser contabilidade criativa; ética passa a ser... bem, deixa pra lá.

Mas o terreno das definições e dos conceitos é tão socraticamente árido quanto sofisticamente fértil. É difícil definir ou conceituar corretamente o evento que privatizou o campo de Libra.


Não pode ser dito leilão, pois não havia concorrência; Não foi doação, pois a Petrobrás terá que pagar 6 Bilhões, mesmo quase beirando a falência (a menos que vá pagar com dinheiro do BNDES, o que parece mais provável, aí seria doação do povo brasileiro para a iniciativa privada, como no caso da OGX); não foi venda direta, pois a legislação assim o proíbe.

O mais difícil mesmo é entender o que passa pela cabeça da presidente, ou seja, daquela que deveria ser a primeira cidadã, ao dizer que o “Leilão” de Libra foi um sucesso. Até gostaria de acreditar que fosse ingenuidade e não má-fé, que fosse desconhecimento e não subversão da realidade, que fosse eu o incapaz de entender e não eles os (in)capazes de tentar enganar (como se fôssemos todos burros e ignorantes).


Se não houve concorrência, se a alienação do bem foi feita pelo lance mínimo, se a parceria do consórcio ganhador é duvidosa, se o pagamento do valor mínimo pode quebrar a Petrobrás no presente, se o porte do investimento a ser feito pode quebrar a Petrobras no futuro, onde o sucesso?


Se a sociedade se mobiliza pedindo educação, saúde e transporte público de qualidade e contra a privatização do petróleo, se tal empreitada vai contra os desejos da população e dos que formam a própria Petrobrás (e que tem conhecimento técnico do erro estratégico), onde o sucesso?

 



Se o mundo caminha a passos largos para o uso de energias renováveis e limpas, se a Petrobrás está deixando de investir nesse novo mercado para investir ainda mais no uso do combustível fóssil, se não há certeza de atravessar a camada de sal sem causar o maior desastre natural da história, se não há sequer um plano de contingência de desastres que não o criado a toque de caixa só para responder a um casuísmo conveniente, onde o sucesso?

 X 

Parafraseando o famoso seriado de décadas atrás (Arquivo X): o sucesso está lá fora.

Fora do militantismo burro (por cego e surdo); fora do maniqueísmo ultrapassado Direita x Esquerda; fora do monopólio da representação pelos partidos políticos (corroídos e carcomidos); fora da total ausência de valores institucionalizada na política como na sociedade; fora da perniciosa perpetuação da lógica política do poder pelo poder.

Já esse “leilão” pode ser considerado um grande sucesso: o leilão de um só!

Um só, que foi vendido pelos interesses particulares dos que se perpetuam nos malfeitos da corrupção política, em ambos os lados do seu espectro (esquerda e direita). Um só que é feito refém da própria incapacidade de discernimento por falta de educação, saúde, transporte, segurança. Um só, abandonado à sua própria sorte por quem finge representá-lo, mas que só faz vilipendiar sua confiança e usurpar sua riqueza.

Um só, que foi leiloado por todos os que fazem a velha política, suja, clientelista, fisiológica, inescrupulosa, sem ética, sem compromisso com a coletividade. Esse que, mesmo sendo muitos, agora é um só (unido na solidão): o povo!

Esse tem sido leiloado com sucesso absoluto!








2 comentários:

  1. Amilcar, você expõe uma visão política que trata do povo...do povo em nome do qual tantas coisas são feitas.
    Concordo contigo, mas antes gostaria de falar em como se quebra uma empresa lucrativa.
    Trabalhei na Petrobrás nos anos oitenta e lá era dito que só existia um negócio mais lucrativo do que explorar um poço de petróleo, era explorar dois.
    Agora se sabe que a saúde financeira da Petrobrás preocupa, que ela está atolada em dívidas e que, mesmo assim, terá de arcar com 40% dos altos custos envolvidos na operação de Libra.
    A imprensa noticia que só Libra exigirá investimento de 200 bilhões de dólares nos próximos 35 anos e que, quando produção começar, por volta de 2020, 41% de tudo o que sobrar depois de subtraídos impostos e custos irá para a União. Só que no dia da assinatura do contrato a Petrobrás já terá que entregar um cheque de 15 bilhões, pelo direito de explorar a área. Deste montante, 6 bilhões sairão do caixa da estatal.
    Essa conta não está batendo. Alguém em algum momento informou os valores errados, pois como é que uma empresa que está em dificuldades financeiras vai poder arcar com esse custo? Parece coisa de mágico de tirar coelho de cartola... ou a Petrobrás está muito bem e isso não é informado ou alguém está sonegando informação.

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  2. Penso que é pior que sonegação. Parece distorção ou falsificação das informações. Isso é o que o atual grupo, que ESTÁ temporariamente no governo, tem feito mais do que respirar (falsificar informações). Falsifica sua ideologia, sua prática política, suas crenças e valores, suas intenções, sua IDENTIDADE!

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